Pátria da Bolinha
Autor : João Henrique
Rede Social: @jhfcastro
Pátria da bolinha
Quando você, leitor ou leitora, estiver diante deste texto é provável que o que descrevo aqui, em termos de resultados, já tenha novos capítulos. Entretanto, os feitos de Bruna Takahashi e Hugo Calderano nos últimos torneios são dignos de nota e merecem o destaque nesta semana.
Pela segunda vez na temporada, Bruna e Hugo se colocam, no Campeonato Mundial disputado em Doha no Catar nesta semana, entre os dezesseis melhores mesa-tenistas do planeta consolidando um quadro de feitos históricos e inéditos em cada categoria. Ao alcançar as oitavas-de-final na Copa do Mundo em Macau, disputada em Abril, Bruna Takahashi se tornou a primeira mulher brasileira a figurar entre as dezesseis melhores em um torneio deste porte. Já Hugo Calderano simplesmente ficou com a taça e pela primeira vez colocou o Brasil no alto do pódio de um torneio desta envergadura nesta modalidade.
Eis que no Mundial de Doha, aconteceu de novo! Bruna está novamente nas oitavas-de-final e Hugo também. Com formatos diferentes, Copa do Mundo e Mundial possuem importância equivalente e em comum tem o fato de reunirem os melhores do mundo. E esta dupla de mesatenistas brasileiros demonstra mais uma vez a vontade a vocação de fazer história.
No caso de Hugo Calderano, terceiro colocado no ranking mundial, o sucesso significa também a consolidação do seu tamanho no circuito e o afastamento de qualquer trauma que pudesse ter ficado da campanha olímpica em Paris, quando a chance de alcançar uma medalha olímpica inédita para o país escapou pelos dedos e Hugo terminou na quarta colocação.
Já Bruna Takashi ainda pavimenta sua trajetória para se firmar entre as melhores. Quatro anos mais nova e ganhando notoriedade junto ao público brasileiro nos últimos tempos, possui feitos importantes desde os primeiros torneios de tênis de mesa. Em 2015, com apenas 14 anos, foi campeã do Desafio Mundial de Cadetes, o primeiro título mundial brasileiro na modalidade.
Décima sexta colocada no ranking mundial, Bruna é a terceira melhor não-asiática e a melhor americana na categoria feminina. E ao chegar nas oitavas-de-final em Doha, ampliou as chances de avançar ainda mais no rankeamento. As duas campanhas da mesatenista na Ásia, inclusive, viraram a chave. Mais do que um talento promissor, Bruna Takahashi já é também realidade.
Discretos na vida pessoal e com certa timidez diante dos microfones, embora simpáticos e solícitos, Bruna e Hugo conciliam tanto talento e competência com um namoro que desperta atenção até fora da comunidade do esporte. Entretanto, é com as raquetadas e intromendo-se entre os fenômenos asiáticos da modalidade que o reconhecimento de ambos se faz cada mais justo e necessário. Acompanhados por outros talentos, como Giulia Takahasi, Vitor Ishy e Guilherme Teodoro, Bruna Takahasi e Hugo Calderano fazem do Brasil uma improvável pátria da bolinha de tênis de mesa em uma modalidade em que a naturalização de competidores asiáticos é a tônica de muitas confederações pelo planeta na busca por representação nos torneios internacionais.
Não é só o João!
O tênis masculino brasileiro produziu com regularidade ao longo da era
profissional nomes que ocuparam posições relevantes no ranking mundial ou
alcançaram resultados expressivos. Já nos anos 70, por exemplo, Thomaz Kock esteve
presente entre os 30 melhores do mundo. Mas o seu 24º lugar é, até hoje, a terceira
melhor marca nacional, com Thomaz Bellucci tendo sido 21º e, claro, Gustavo Kuerten,
o Guga, líder do ranking da ATP.
Desde a aposentaria de Guga em 2008, porém, o Brasil não se encontrava com
tanta esperança de voltar a ter um tenista de elite no circuito como é o caso do jovem
João Fonseca, que já alcançou o 59º lugar no ranking e é o único top 200 com menos de
19 anos. Mas o tênis masculino nacional não se limita ao prodígio carioca e tem outros
nomes em boa fase, rankings de destaque ou promissores. E se no surf existe a Brazilian
Storm, por que não almejar que um segundo nome possa se juntar a João Fonseca,
convocado por André Agassi para representar a equipe Mundo na prestigiada Laver
Cup, na formação de uma equipe brasileira forte em competições como a Copa Davis,
junto aos fortes duplistas que já temos? Vamos aos candidatos:
1) Thiago Monteiro (30 anos) – 106º no Ranking ATP
Número 1 do Time Brasil com frequência mesmo na reta final da carreira de
Thomaz Bellucci, Monteiro é um tenista capaz de fazer grandes jogos, mas já apresenta
sinais de que o auge ficou para trás. Bronze nos Jogos Pan-americanos de Santiago em
2023, já foi o 61º do ranking em Outubro de 2022 e tem vitórias sobre integrantes do
top-10, a última delas sobre o norueguês Casper Ruud no ano passado. Ainda é nome de
segurança para as convocações nacionais.
2) Thiago Wild (25 anos) – 120º no Ranking ATP
Promissor desde os tempos de juvenil, Wild não alcançou ainda o que se
projetava em 2018 quando venceu o US Open Juvenil. Polêmicas pessoais, convocações
recusadas e períodos de má fase marcam sua trajetória que também contém feitos
importantes. 58º colocado no ranking em Maio de 2024, posição que Fonseca ainda não
alcançou, já venceu nomes de impacto como o russo Medvedev e o estadunidense
Taylor Fritz.
3º) Felipe Meligeni Alves (27 anos) – 123º no Ranking ATP
Sobrinho de um nome histórico do tênis nacional, Fernando Meligeni, Felipe
vive às portas de entrar no top-100 e atualmente tem conseguido estabelecer marcas
inéditas na carreira. O seu melhor ranking, 117º, foi obtido no mês passado, assim como
a conquista do Challenger 125 da Cidade do México, seu principal título. Com
convocações freqüentes e aparições eventuais na Copa Davis, tem boa idade e os sinais
atuais de evolução o deixam no radar do capitão Jaime Oncins.
4º) Gustavo Heide (23 anos) – 182º no Ranking ATP
O mais jovem top-200 do Brasil, Heide tem tido a oportunidade de participar de
competições cada vez mais elevadas e alcançar vitórias importantes. Disputou o Rio
Open em 2024 após vencer a Maria Esther Bueno Cup contra outros nomes do tênis
brasileiro e em 2025 recebeu convite para o torneio, sendo eliminado em uma dura
batalha de mais de 3 horas contra o argentino Francisco Comesana. 142º no ranking em
Agosto de 2024, perdeu o bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2023 para Thiago
Monteiro, mas venceu João Fonseca em 2024 e Thiago Wild no ATP 250 de Santiago
em fevereiro se colocando entre os destaques brasileiros.
5º) Pedro Rodrigues (19 anos) – 858º no Ranking ATP
20º melhor brasileiro no ranking, o que mostra o significativo conjunto de
brasileiros entre os 800 melhores do mundo, Pedro tem dezenove anos recém-
completados, venceu a Copa Davis Junior ao lado de João Fonseca e é aposta para o
futuro próximo. Nesta semana disputa em Bogotá, após duas vitórias no Qualifying, seu
primeiro Challenger 125 cuja participação não ocorreu por convite. Já na estréia venceu
o uruguaio Franco Roncadelli, 367º no ranking da ATP.
E você? Em quem aposta para fazer companhia a João Fonseca nas convocações
da Copa Davis?